[No Menu] – Acontecimentos na irrealidade imediata

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Sentar para desvendar as páginas desse livro, admito, foi uma completa aventura. Um conteúdo que nos leva, efetivamente, do nada para lugar nenhum.

Acompanhamos o desenvolvimento desse personagem, sua infância e adolescência, permeada por um alto índice de sensibilidade. Em alguns momentos carregada de sexualidade, mas essa fica em segundo plano quando nos deparamos com os longos diálogos internos do protagonista.

Vemos um jovem, que em determinados momentos gostaria de se encaixar nos moldes da sociedade em que vive, e em outra ocasião aceita sua reclusão e aprende a gostar da solidão.

Ao longo da narrativa, nosso personagem sem nome vive diversas experiências e momentos de epifania, com descrições poéticas e tentativas de fuga da realidade. Tudo para tentar elucidar a questão primordial da existência: qual nosso objetivo? E com tais questionamentos, na narrativa o jovem é tido como um alguém mentalmente instável, beirando a total insanidade. E por vezes, sua atitude chega a nos confundir, como quando ele persegue uma mulher até em casa e prostra-se rezando em seu jardim.

A própria sinopse do livro o descreve como um texto experimental e de certa forma, ele o é. Pois não temos uma história linear e não atingimos um objetivo final. A questão permanece insolúvel, mas foi um grato deleite deslizar sobre essas páginas. Talvez saber que o autor faleceu tão jovem, com 29 anos, vítima de uma doença, agregue certa aura a obra. Mas é pela capacidade de suscitar questionamentos pouco usuais que se encontra a magia do texto desenvolvido. Vale a tentativa de degustar.

O livro: Acontecimentos na irrealidade imediata, de Max Blecher.

 

[No Menu] – Os Reis

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Cortázar recria o conto do Minotauro nessa pequena peça, com 82 páginas, e aborda os aspectos mais intrínsecos da natureza humana na construção de seus personagens.

Relembrando a história tradicional, o Rei Minos foi punido por Poseidon, que fez com que a esposa do Rei se apaixonasse e engravidasse de um touro, dando à luz a criatura conhecida como Minotauro. Na mitologia e na releitura de Cortázar, Minos oferece jovens atenienses para alimentar a besta.  E num certo momento, o herói Teseu se apresenta voluntariamente para eliminar o monstro. Até esse ponto, o conto guarda semelhanças com a narrativa original, mas o diferencial fica com os diálogos entre os personagens.

Ariadne, filha de Minos e irmã do Minotauro, é relutante em perder o irmão com o qual pouco se relacionou e é ressentida com o pai pelo aprisionamento que considera injusto. O diálogo inicial entre os dois discorre sobre os sentimentos de amargura de ambos, a irmã pelo irmão aprisionado e pelos jovens que irão morrer no labirinto, e o rei pela traição da esposa.

Na segunda parte, quando somos apresentados a Teseu, este vem em busca de suas glórias como herói, ao ser o matador do último dos monstros. Como premio por sua valentia, caso conseguisse matar o monstro, ele pede Ariadne. A jovem então fica dividida entre seu amor fraternal e o romântico, mas opta pelo último ao fornecer a Teseu o meio pelo qual sair do labirinto.

O ápice da trama se desenrola quando o herói encontra o monstro, e este não é nada do que se havia imaginado. No diálogo, o Minotauro expõe com clareza e sensibilidade seu único desejo: a liberdade.

O autor trabalha de forma magistral os diálogos, trazendo as reflexões íntimas dos personagens à tona e expressando de forma objetiva (em virtude das poucas páginas), mas sem perder o encanto.

Com certeza um livro muito recomendado, porém não é a melhor expressão do trabalho de Julio Cortàzar, ficando bem distante do realismo fantástico que consagrou o autor latino-americano.

O Livro: Os Reis, de Julio Cortázar, pela Editora Civilização Brasileria.

[No Menu] – Elogio da Madrasta

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Estou eu aqui sentada, pensando em uma boa maneira de começar a escrever uma resenha sobre “Elogio da Madrasta” do Mario Vargas Llosa. Mas, qual seria a maneira ideal de se abordar um livro tão pequeno, com um conteúdo aparentemente óbvio, mas que enseja tantos assuntos de forma sutil à nossa mente?

Primeiro, acho justo posicionar meu pré-conceito com relação ao livro. Eu o adquiri nas famosas promoções de R$9,90 do Submarino, sem saber ao certo seu teor, mas mais por conhecer de nome o autor e sabe-lo consagrado no meio literário. Quando a obra me chega em mãos e busco por um resumo ou resenha (pois sim, eu consulto antes de ler, e depois desse livro, consulto antes de comprar também) já não gosto do conceito que me é apresentado, por ser tratar de uma incursão do autor na literatura erótica, e como de literatura erótica já é consolidado na mente do senso comum, e que tenho para mim como fatídica, Cinquenta tons de cinza e seus semelhantes, o singelo volume da edição econômica recém adquirida foi mofar na prateleira.

Eis então a proposta do Desafio Livrada de 2016, ler algo que você não sabe por que comprou. Ora, esse sim era um título digno da categoria. Devidamente incluído, respirei fundo, engoli o pré-conceito sobre o tema, e fui me aventurar nas páginas belicosas da novela.

Em linhas gerais, o livro se trata de um garoto que é apaixonado pela nova madrasta. Até aí, sem surpresas. Mas o que se segue nas páginas, é uma descrição sobre o desenrolar deste relacionamento. E tirem as crianças da sala…

—- SPOILER ALERT —-

 

Vai haver de fato um relacionamento, mais do que platônico. No decorrer do livro, a narrativa descamba pra uma coisa carnal, e teremos sim um quê de pedofilia na história entre Fonchito, o garotinho de uns 10 anos, e a madrasta, Dona Lucrécia.

 

—- SPOILER ENDS —-

O texto é perpassado por várias figuras imagéticas e às vezes mitológicas, como a representação de um querubim, para o amor que o menino sente pela madrasta. A escrita de Llosa é impecável neste quesito. E os vários devaneios representados por Dona Lucrécia e Don Rigoberto em suas noites de amor, ganha capítulos inteiros, com descrições detalhadas até mesmo dos quadris da esposa, personificada como rainha de um império há muito extinto.

Voyerismo, pedofilia, hedonismo e perda da inocência são temas representados na obra com maestria. E a surpresa reside exatamente na perda desta inocência, pois no decorrer e findar da história, fica claro que o único realmente desperto e consciente dos atos e fatos transcorridos, é o pequeno Fonchito.

Agora, você deve estar se perguntando se gostei do livro. Digo-lhe que não sei. É de fato uma obra excelente, vistos os atributos que descrevi até aqui, mas ainda tenho a sensação que algo me escapou aos olhos e definitivamente minha vontade de reler não se encontra avivada. Então ficarei na incongruência dos sentimentos, e só posso me contentar em buscar por títulos do autor que não retomem esta temática narrativa.

Escolhas para o Desafio Livrada 2016

O ano começou, eu até fiz um vídeo falando que não faria desafios, vide o grande fracasso de 2015, mas não resisti a participar do Desafio Livrada! 2016.

Se você nunca ouviu falar neste desafio, dá uma conferida no blog do Yuri, que é o dono desta grande ideia.

Bom, então, eu não ia fazer desafios, mas fiquei pensando que poderia tentar. No ano de 2015 eu consegui ler 32 livros, e coloquei como meta pessoal para este ano, a leitura de mais livros do que no ano anterior. Sendo assim, participar do Desafio Livrada! também significaria ler mais livros de qualquer jeito.

O desafio é composto de 15 categorias, sendo a 15ª uma escolha do próprio Yuri. Então, segura a peruca amiguinho, que o post vai ser meio longo rs

Vamos as minhas opções!

1 – Um prêmio Nobel: Luz em Agosto de Willian Faulkner

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Este é o terceiro livro do autor. Nunca li nada dele, mas comprei esta edição em uma promoção da Saraiva no ano passado por R$9,90. Desconto incrível, pois agora só se acha a no mínimo R$50,00. Bom, mas a história se passa no estado do Mississippi, e vai interlaçar a história de 8 personagens e seus dramas e batalhas pessoais. Só vi resenhas sobre este livro, mas a história me atraiu bastante.

 

2 – Um livro Russo: Memórias do Subsolo de Fiódor Dostoiéviski

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Confesso não ser uma profunda conhecedora dos russos. Até hoje só li alguns contos de Tchekhov, mas como todos sempre elogiam muito a escrita do Dosto, resolvi optar por ele, e por esta obra que condensa os principais temas que vão permear a obra completa do autor. Não comprei este ainda, pretendo adquirir na próxima oportunidade. (AKA: Comprar na Liquidação!)

 

 

3 – Um canône da Literatura Ocidental: Moby Dick de Herman Melville

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Creio que este título dispensa maiores apresentações. Pensei em não colocá-lo, e optar por livros menores. Mas o Yuri fez um vídeo puxando a orelha da galera, e disse que o desafio precisava ser realmente desafiador. Então, porque não incluir meu calhamaço, que estou tentando terminar a 1 ano, no desafio e me desafiar realmente? Foi incluído e estamos aí tentando concluir a famosa história sobre a caça da baleia branca.

 

4 – Uma novela: O estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde de Robert Louis Stevenson

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Ou da forma mais popular, O médico e o Monstro. Tenho esta edição do livro O clube do Suicídio, que contém algumas novelas do autor. Como estava curiosa para ler, o inclui no desafio e vou aproveitar para matar a vontade de conhecer os outros textos.

 

 

5 – Um livro que você não sabe porque tem: Elogio da Madrasta do Mario Vargas Llosa

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Sabe quando você entra no site do Submarino e encontra vários livros por R$9,90? Pois é, este foi um deles. Sempre ouvi falar deste autor, mas nunca bateu AQUELA vontade de conhecer. No fim, comprei o livro porque já tinha ouvido falar do escritor e ele ficou lá pegando poeira. Boa hora para ver se a compulsão por compras trouxe algo de bom rs.

 

6 – Um autor do seu estado: O Sorriso da Hiena do Gustavo Ávila

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Estava eu a procurar, quando descubro que Gustavo Ávila é um paulista. E como seu livro de estréia foi lançado no ano passado, recebeu boas recomendações e é um suspense, resolvi conhecer uma produção da nossa literatura contemporânea. Esse eu baixei no kindle, mas se for bom, vem parar na prateleira. Essa é uma coisa que eu faço quando quero conhecer algum autor. Baixo primeiro, se for querer reler, eu compro o livro físico.

 

 

7 – Um livro publicado por uma editora independente: Stoner do John Willians

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O começo de 2015 foi o ano desse livro. Todo mundo leu, fez vídeo, resenha, falou mal, falou bem, ufa. Bom, agora que a febre passou, a edição foi revisada e corrigida, eu quero conhecer a história deste professor, que não é nada extraordinária, nada incomum, trata apenas da vida e das escolhas que a gente faz no caminho. Ainda não comprei, também será adquirido naquele esquema de oportunidade.

 

8 – Um ficção histórica: Os Miseráveis do Victor Hugo

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Esse é o momento onde as pessoas me olham e falam “Tá loca menina? São mais de mil páginas!”. Mas, como tá rolando projeto de leitura coletiva, organizada pela Fran do Livro e Café, da qual eu já ia participar e o desafio precisava ser desafiador, bora escolher mais um cânone para compor a lista!

 

9 – Um livro maluco: A Metamorfose do Franz Kafka

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Não sei qual o seu conceito de maluco, mas para mim um sujeito que vira um inseto gigante e aparentemente tenta encarar isso com naturalidade é uma situação no mínimo extremamente inusitada. Outro título que está mofando na prateleira e que (tentará) ser lido neste ano. Já comecei esse livro uma vez e parei. Então preciso vencer a primeira má impressão.

 

 

10 – Um livro que todo mundo já leu, menos eu: Clube da Luta do Chuck Palahniuk

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Toda vez que vejo alguém falar sobre este livro, é sempre para elogiar a leitura. Tem resenhas mil no Youtube e eu aqui, sem nem sequer ter passado perto de nada deste autor. Vi o filme, mas faz tanto tempo que nem me lembro mais. Vou tentar fazer o combo, livro + filme (descobri que a Netflix disponibilizou na programação), mas vou ler primeiro. Sei tão pouco que não vale nem uma descrição breve.

 

11 – Um autor elogiado por um escritor que você gosta: A Casa das Sete Torres do Nathaniel Hawthorne

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Apesar de mantermos uma relação um pouco conturbada, eu o amo, e Herman Melville adorava tanto esse cara, que no começo de Moby Dick a dedicatória é pra ele. Tipo assim, curiosidade explodindo por saber o que tem de tão bom. Mas não queria começar por A Letra Escarlate, que parece ser o único romance que ainda é editado, então fiz uma troca no Skoob e peguei essa edição velhinha porém conservada.

 

12 – Um livro bobo: Mestre Gil de Ham de J.R.R. Tolkien

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Não me matem! Considerei este como livro bobo, porque vai ser fácil de ler, é fininho, e é uma história para distrair. É só um camponês que vira caçador de dragões. É pra entreter. Não li O Senhor dos Anéis, então acho que esse é um bom primeiro contato com o Sr. Tolkien.

 

13 – Um romance de formação: Moll Flanders de Daniel Dafoe

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Outra edição de sebo. História de mulher forte. E é bom lermos sobre mulheres fortes e como transitavam pela sociedade de antigamente. Para os desavisados, romance de formação é aquele que vai contar sobre a vida de algum personagem, no caso, nossa personagem dá título a história.

 

 

14 – Um livro esgotado: 49 Contos de Tennessee Willians

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Nessa categoria eu fui ambiciosa. Com suas mais de 500 páginas, esta edição está super esgotada, difícil de achar até em sebos. Para quem nunca ouviu falar, Tennessee é um dramaturgo, e uma das mais famosas adaptações de sua obra para o cinema é Gata em Teto de Zinco Quente, estrelada por Marilyn Monroe.

 

 

15 – As Aventuras do Bom Soldado Svejk de Jaroslav Hasek

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Este último é a indicação do Yuri. Nunca ouvi falar mais gordo, por isso esse é um dos desafios mais legais. No ano passado a indicação era de Phillip Roth, que eu também não conhecia. Não vi nenhuma resenha sobre este livro, então até o momento ele será uma grande surpresa no enredo.

 

 

Bom, acabou, ufa!

Estas foram minhas opções, se você já leu algum destes títulos, deixe seu comentário, sou curiosa para saber o que as pessoas acham rsrs E se for participar, me conta qual a sua lista!